
Olavo Romano deixa sua obra literária genial e seu exemplo de homem simples
Além do CNF, Minas Gerais e o Brasil também lamentam profundamente a perda da genialidade literária do grande escritor e contador de causos mineiros, Olavo Celso Romano. Ele morreu, aos 85 anos, no último dia 16 de novembro de 2023 e era uma pessoa bastante simpática e querida no condômino do CNF, desde 2020, quando para lá se mudou. Romano também ficou conhecido por ser uma pessoa simples e sempre atenciosa com todos que convivia diariamente, principalmente no condomínio. Todos contam que o que Olavo gostava mesmo de fazer era de contar seus causos sobre a vida das pessoas do interior de Minas, reunindo com uma aguçada sensibilidade, conhecimento literário e humor nato. Olavo deixa a viúva Kátia, que também é escritora e poetisa, dois filhos, seis netos e um bisneto. Romano era filho de Demósthenes Romano e Waldete Viana Romano, nasceu em seis de setembro de 1938, em Morro dos Ferros (MG). Ele foi presidente e ocupou a cadeira 37 da Academia Mineira de Letras por quase 20 anos. O escritor teve quase 20 livros publicados, sendo 11 autorais. Entre suas obras mais famosas estão Casos de Minas, Paz e Terra, Minas e seus Casos, Dedo de Prosa e Prosa de Mineiro e outras. Olavo Romano também foi homenageado durante a Bienal Mineira do Livro de 2022. Em 2015 Olavo recebeu, das mãos do vereador Tarcísio Caixeta, o título de Cidadão Honorário concedido pela Câmara de Vereadores de Belo Horizonte. "Olavo Romano foi uma pessoa exuberante em vários sentidos: pela inteligência, pela generosidade, pela escrita cativante e capacidade de comunicação. Na Academia Mineira de Letras, sua gestão como presidente imprimiu à instituição os novos rumos que vamos trilhando. Em luto pela privação da convivência, a Academia celebra os frutos deixados por tão rica vida para a literatura e a cultura brasileira", lamentou Jacyntho Lins Brandão, atual presidente da Academia Mineira de Letras (AML).

"Conheci o Olavo Romano quando ele era chefe de gabinete do secretário do planejamento Paulo Haddad, no governo Francelino Pereira, função que ocupou entre 1979 e 1983. Era um grande proseador e já reunia histórias para a publicação do primeiro dos seus onze livros. Esse livro se chamou "Casos de Minas", uma coletânea de histórias saborosas, com linguajar característico do interior do Estado, as quais sempre terminava de maneira surpreendente, com uma tirada de humor ou de sabedoria", afirma o condômino do CNF, desde 1978, escritor e jornalista Márcio Metzker, 71. De acordo com ele, tinha sempre notícia das peripécias culturais do Olavo e estive na sua posse na Academia Mineira de Letras e teve o grande prazer de reencontrá-lo nas caminhadas em torno das lagoas do condomínio. Ele e sua esposa Kátia, que é poeta com dois livros publicados, paravam sempre para uma prosa comigo e minha esposa Fran. Ele estava muito interessando em saber o que fiz com as entrevistas que gravei nas reportagens que fiz no Jequitinhonha, e eu disse que boa parte usei para caracterizar personagens no meu romance "Utopia Tropical", que publiquei durante a pandemia de COVID-19 e nunca pude fazer lançamento, nem colocar em livrarias, porque estavam todas fechadas. Mesmo assim, vendi 380 dos 500 exemplares. Mário conta com satisfação que foi convidado para participar de uma homenagem póstuma a Olavo Romano pelo Conselho Deliberativo do CNF. O evento aconteceu num dia 26 de novembro, às 9h30 no Centro de Atividades Hugo Garcia. A homenagem foi uma proposta feita por Márcio Metzker à Presidente do Conselho Deliberativo do CNF, Stephane Bernardes. "Uma merecida e necessário evento solene, em homenagem póstumas ao condômino e notável escritor, Presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Sr. Olavo Romano ministrada pelo condômino Marcio Metzker", ressaltou Stephane Bernardes. Nikolas Chaves Nascimento , enteado do Olavo esteve presente. "Ele era marido da minha mãe, Katia Chaves Romano e para nós da família foi uma alegria imensa participar da homenagem, escutar o Márcio contar os casos do Olavo. O Olavo se encantou e se apaixonou por este lugar e curtia muito as voltas nas lagoas, o silêncio e a natureza. Toda a família agradece esta homenagem", disse Nikolas. Márcio Metzker, entre outros assuntos, inclusive a narrativa literária de Olavo Romano, destacou sobre a profunda simpatia que sempre nutriu por Olavo "nos últimos 40 anos" e falou apresentou sua obra e recomendou a todos a leitura dos livros que ele escreveu, para que os condôminos possam se interessar e se encantar com leituras de obra tão singular. A homenagem reuniu 18 conselheiros, Nikolas Chaves Nascimento, representando a família Romano, o palestrante Márcio Metzker e nove condôminos ouvintes, num total de 29 pessoas.
Segundo Márcio, o livro "Casos de Minas" foi um fenômeno literário como nunca viu igual em Minas e Olavo era tão bem relacionado que na tarde de autógrafos enfileiraram-se cerca de mil pessoas no Museu Abílio Barreto, na Cidade Jardim. Olavo estava autografando no fundo do museu, depois da locomotiva, e a fila saía do prédio e dava a volta na praça. Devia ser mais de meia-noite quando ele conseguiu sair, com câimbras nas mãos de tanto escrever. A edição de 3 mil exemplares esgotou-se rapidamente. "O grande Carlos Drummond de Andrade elogiou o livro e escreveu que a casa de fazenda na capa era idêntica à fazenda de sua família, mas com a escada do lado contrário e saudou o estreante com um elogio: "Prosa Feliz". Jorge Amado disse que depois de ler o livro correu de mão em mão na sua família. Assim também aconteceu com o meu exemplar, que emprestei para um amigo querido e foi passando para os amigos dos amigos e nunca voltou às minhas mãos. Fui procurar para recomprar e ele está esgotado até nos sebos", lamenta o condômino. Ele diz que combinou com o Olavo de fazer uma "catira": trocar meus dois livros publicados pelos dois primeiros dele, "Casos de Minas" e "Minas e seus Casos". "Eu nem sabia que ele já tinha onze títulos publicados! Assim fizemos: deixei meus dois títulos, "Utopia Tropical" e "O Mistério do Pólen" na Portaria para ser retirado por eles, e minha filha foi buscar os que ele deixou na portaria do seu próprio prédio em Belo Horizonte. Ele se desculpou por não ter mais os dois que eu queria, e disse que tinha conseguido uma verba para tirar novas edições dos sete primeiros. Creio que não houve tempo. Ele já lidava com metástase de um câncer e eu nem soube disso, porque ele tinha aversão a falar sobre doença. Era um homem alegre, extrovertido, levou a vida sorrindo e fazendo amigos em todas as áreas", observa Márcio. Márcio Metzker formou-se em 1978 na FAFICH-MG, trabalhou como editor na TV Globo e passou em concurso para a Assembleia Legislativa de MG, onde fundou a TV Assembleia. Fundou também a Rede Minas e foi secretário de Comunicação no governo de Itamar Franco.
Outro grande escritor e poeta mineiro com uma obra que integra a publicação de 27 livros, com sucesso e conheceu Olavo Romano, é Carlos Lúcio Gontijo. Ele aceitou, de bom grado, nosso convite para falar sobre suas percepções pessoais sobre o distinto escritor. "Olavo Romano se resguardou por toda a vida na simplicidade mineira do distrito de Morro do Ferro (da cidade de Oliveira, onde nasceu). Tive o prazer de conhecê-lo durante entrega do Troféu Magnum de Cultura, em 1997, pelos 100 anos de Belo Horizonte, quando ele foi o autor homenageado. O grande mérito de Olavo Romano como escritor foi transformar em arte a "contação" de causos. Por meio de seus livros ele construiu um verdadeiro tratado sociocultural da gente mineira, o que levou a adoção de alguns de seus títulos em escolas de Minas Gerais e outros estados, nos quais os alunos encontram o jeito, a fala e o modo de vida do cidadão das Minas Gerais. Mais que ser presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Olavo Romano deixou rastros de amizade, sorriso largo e incentivo por onde passou, sempre levando cultura e estímulo aos novos autores, uma vez sabedor das dificuldades em torno do fazer literário. Para quem como ele fez da contação de causos uma missão da própria alma, ao mudar de dimensão espiritual, houve apenas mudança de local de fala, pois seja na Terra ou no Paraíso um caso é sempre um caso; e Olavo Romano continuará na contação e aumentando um ponto a cada versão, sob o inteiro comando de sua genialidade intelectual (e espiritual)" disse com propriedade, Carlos Lúcio Gontijo.

Em sua trajetória profissional, em meio à edição de seus livros, Olavo Romano, estudou Direito (PUC-MG), Administração (Mestrado na Fundação Getúlio Vargas-RJ) Inglês (proficiência pela Universidade de Michigan), Planejamento Educacional (Banco Mundial). Lecionou Inglês em vários colégios e Administração na PUC-MG e fez carreira no serviço público, aposentando-se como Procurador do Estado. A partir de 1979, publicou seus casos mineiros e textos poéticos em grandes jornais e revistas mineiras e do País. Também participou de muitos programas de TV. Olavo chegou a prestar homenagens a céleres dirigentes e dezenas de empregados da Alcan, bem como executivos da Acesita e da Samarco, além de estar presente, desde a década de 80, em diversos relatórios da Cemig, além de editar livro sobre os 50 anos da reconhecida empresa mineira. Após longa permanência nos Estados Unidos, Olavo voltou para o Brasil onde ocupou cargos públicos e trabalhou em grandes empresas.
Um pouco sobre a trajetória de produção cultural de Olavo Romano
- Na Fundação João Pinheiro, editou um jornal, participou da elaboração (pesquisa, entrevistas e texto) de um livro e de dez fascículos sobre a História do Comércio em BH.
- Seu livro Para Além da Cidade Planejada, de 1997, focaliza o Colégio Magnum e a região nordeste da Capital. Já Memória Viva resume os 50 anos da Alcan na cidade de Ouro Preto.
- A obra Mestres Minas Ofícios Gerais, do (Sebrae, 2000), registra resgate cultural do artesanato em Araxá.
- Também é sócio fundador do Sindicado de Escritores de Minas Gerais. Entre as homenagens recebidas estão do Estado de Minas, do Lions Clube Internacional e da Câmara Municipal de Oliveira.
- Seu conto O conto "Como a gente negoceia" gerou o curta-metragem Negócio Fechado, premiado no festival de Gramado de 2001.
- O grupo "Carbono 14" filmou 30 histórias da obra de Romano para distribuição gratuita em bibliotecas, escolas e centros culturais.
- Como sócio fundador do Instituto Jung de Minas Gerais, atuou em encontros e simpósios com psicólogos e educadores para compartilhar conhecimentos.
- Com o concertista Roberto Corrêa, desenvolveu, pelo interior de Minas, o projeto Causo, Viola e Cachaça, do SEBRAE-MG/AMPAC.
- Com o projeto Minas Além das Gerais, do Governo Estadual, apresentou-se em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Sempre um Papo, animou concorridos saraus por inúmeras cidades mineiras.
- Solidificou ricas parcerias com músicos como Pereira da Viola, Chico Lobo, Lu e Celinha, apresentando-se em shows, em que a melodia das violas e flautas se harmoniza com seu jeito despojado de contar "causos".
- O livro Pés no Caiçara, um olhar sobre a Pampulha, escrito para o Shopping Del Rey, foi lançado dia 15 de outubro de 2003.